A página Opinião da Academia é a novidade em comemoração ao primeiro mes do blog. Aqui, queremos mostrar que a Academia do Vestibular não é apenas um distribuidor de conteúdos. Periodicamente, teremos sempre um artigo sobre temas atuais pertinentes aos nossos assuntos de interesse: educação e vestibular.
E para começar o exemplo de uma iniciativa simples que dá muito mais resultados do que os atuais sistemas de cotas, que ao invés de incluir, discriminam os estudantes que utilizam esse sistema para acessar a universidade.
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Arregaçando as mangas
Já faz muito tempo que discutimos a importância da valorização da educação como forma de sustentar o crescimento do país. A solução é difícil, e passa por uma série e fatores tais como:
# Reestruturar a forma de educar, adaptando-a as exigências da sociedade atual;
# Reestruturar as escolar, fazendo da estrutura física a base para uma escola melhor;
# Valorizar financeira e institucionalmente a figura do professor como agente essencial desse processo;
# Reconstruir a relação entre o triângulo escola – aluno – família, deteriorada nas últimas décadas; Etc.
Como vemos, a solução é muito mais complexa do que se possa imaginar num primeiro momento. É evidente que é preciso investir maciçamente para uma completa reestruturação do sistema educacional no Brasil. Grandes somas de dinheiro serão necessárias num processo de longo prazo para que no futuro o quadro da educação no Brasil seja melhor.
É importante observar que não há outro caminho. Não há atalhos. Não adianta basear as metas em notas de provas de avaliação tais como o IDEB e o ENEM, que são processos de avaliação extremamente caros, ineficientes e meramente eleitoreiros.
Mas uma pergunta deve ser analisada antes de discutirmos propostas para uma educação melhor no Brasil. Por que educar melhor é tão essencial? A pergunta parece óbvia, mas a resposta não parece influenciar as mentes e os corações dos nossos representantes populares nas assembléias legislativas e nos “palácios” destinados ao poder executivo.
A história nos mostra essa importância.
Após a segunda guerra mundial, os países asiáticos, muitos dos quais estavam devastados por longos períodos de batalhas militares, mergulhados em uma profunda crise, pareciam destinados a tornarem-se sociedades pobres e sem qualquer tipo de desenvolvimento. Sociedades até então feudais estavam agora devastadas financeira e socialmente após a guerra. Como mudar esse quadro? Países como o Japão e a Coréia (do Sul), esta última devastada por uma guerra interna que dividiu seu território entre as ideologias então vigentes (capitalismo e comunismo), resolveram investir prioritariamente em educação. O resultado desse investimento é visto no nível de desenvolvimento que estes países têm nos dias de hoje. O Japão e a Coréia do Sul estão entre as maiores economias do mundo possuindo sociedades tecnologicamente desenvolvidas e socialmente mais justas. Esses resultados do investimento em educação são fatos concretos, e contra fatos não há argumentos.
Mas o Brasil também tem uma das maiores economias do mundo. Estamos entre os 10 maiores produtores de riquezas do planeta. Entretanto nossa sociedade é socialmente injusta e nossa matriz educacional é pobre. Muitas são as razões para que se tenha chegado a esse patamar. A grande maioria delas está intrinsecamente ligada a escolhas, no mínimo, equivocadas dos nossos dirigentes.
Não é novidade, que uma sociedade desenvolvida passa pelo desenvolvimento tecnológico, obtido invariavelmente através do investimento em educação superior. É importante ter uma educação de base consistente, mas a educação superior é aquela que determina efetivamente os rumos de uma sociedade. No Brasil, temos grandes universidades: USP, UNICAMP, UFRJ, UERJ, UFF, UFMG, UFPE, etc. A questão é: como fazer com que uma sociedade de renda per capta baixa, que representa a grande maioria da nossa população, tenha acesso a essas instituições? Não é novidade que, mesmo nas instituições públicas, é caro fazer um curso superior.
No Brasil uma possível solução para esse problema foi proposta através de um sistema de cotas. O sistema prevê que as “minorias”, que na verdade representam a grande maioria da população, tenham vagas reservadas nas universidades públicas. Assim, negros, indígenas, estudantes de escolas públicas, entre outros, passa a concorrer por vagas reservadas, evitando a concorrência desleal dos estudantes advindos das escolas particulares onde o nível de ensino é bastante razoável (mesmo muitas dessas escolas não deixando nada a dever a fraca educação oferecida nas escolas públicas). Em virtude da concorrência por vagas reservadas, os estudantes aprovados pelo sistema de cotas entram na universidade com notas, no vestibular, muito mais baixas que as dos alunos que concorrem às vagas fora das cotas.
Essas notas baixas sinalizam um problema que se torna crítico quando os alunos cotistas chegam à universidade: a falta de base para as disciplinas a serem estudadas. Nos cursos de ciências exatas essa situação é ainda mais crítica, visto que, muitos alunos advindos do sistema de cotas, não possuem base de formação no ensino médio nas disciplinas de física, química e matemática, em nível suficiente para acompanhar os cursos da universidade.
Como consequência desta cruel realidade surge o fantasma da evasão acadêmica. Muitas universidades brasileiras têm realizado estudos sobre alunos que, oriundos do sistema de cotas, acabam desistindo dos cursos de graduação por não conseguirem acompanhá-los. [veja os três estudos cujos links estão na página logo após essa coluna].
Isto mostra que, ao invés de proporcionar acesso aqueles considerados desfavorecidos, estamos afastando ainda mais estes alunos do sonho de cursar (e concluir) um curso de nível superior. Isto por si só, faz destes alunos elementos ainda mais excluídos na sociedade, e um programa excludente, como o sistema de cotas tem se mostrado, é muito mais do que isso: é discriminatório. Viola o princípio básico da democracia de tratar como iguais todos os cidadãos de uma sociedade.
Dia após dia, cobramos do governo explicações e propostas para possíveis soluções para este grave problema, que além de tudo é um nicho de desperdício de dinheiro público (um aluno que entra na universidade pelo sistema de cotas e não conclui o curso, representa um desperdício de recursos para os cofres públicos). Mas diante deste fato, você já se perguntou: o que eu estou fazendo para melhorar esta situação?
No Brasil, é muito comum atribuir ao governo total responsabilidade por problemas desta natureza. O governo que, por sua vez, não pode se eximir desta responsabilidade, lança mão de soluções baratas e pouco eficientes, como o sistema de cotas (seria muito mais caro, porém eficiente, investir em melhorias concretas para o sistema educacional do país).
Agora veja essa iniciativa. Um padre, numa capela do bairro do Engenho de Dentro, subúrbio do Rio de Janeiro, vem utilizando o espaço da paróquia para um projeto de pré-vestibular comunitário. Com ajuda da comunidade local (comerciantes e fieis) o padre recrutou uma série de estudantes concluintes dos cursos de licenciatura das mais diversas disciplinas, sob orientação de um professor voluntário mais experiente, que coordena o grupo, e tem buscado preparar esses alunos para os exames vestibulares. Nesse processo, os professores/monitores, têm buscado compensar uma série de falhas de formação destes alunos, além de oferecer a eles os conteúdos mais específicos referentes ao vestibular. Como resultado desta iniciativa simples e de baixo custo, vários destes estudantes têm alcançado as universidades públicas e, para surpresa geral, um levantamento da paróquia mostra que o índice de alunos, advindos dessa iniciativa, que abandonam os cursos de graduação é inferior a 10 %.
Não estamos aqui fazendo qualquer tipo de apologia religiosa. Mas é preciso observar, que este tipo de iniciativa, oriunda exclusivamente da sociedade civil (igreja) e da iniciativa privada (comerciantes), tem se mostrado muito mais eficiente que as soluções mirabolantes apresentadas por nossos governantes.
Cabe neste momento mais uma pergunta: já que uma solução concreta para a melhoria da qualidade da educação nas escolas públicas de ensino médio no Brasil é de longo prazo, e o problema precisa de soluções para ontem, por que o governo não incentiva e ajuda a custear ações como a da paróquia citada?
Uma outra pergunta: por que os próprios acadêmicos, que do alto de seus gabinetes analisam o problema da evasão sem propor qualquer solução concreta para o mesmo, não intervêm neste problema ajudando a resolvê-lo?
As universidades públicas (e particulares) estão abarrotadas de estudantes de licenciatura nas mais diversas disciplinas. Por que os pedagogos e psicólogos responsáveis pela formação destes alunos, não abrem mão de seus cursos conceituais, e colocam estes alunos o maior tempo possível em sala de aula, em cumprimento a um amplo projeto de estágio docente, destinado a nivelar alunos de escolas públicas e particulares? Esta não seria a solução do problema, mas enquanto o mesmo não se resolve, seria um belo paliativo.
Nós, enquanto sociedade civil organizada, vivendo sob um estado de direito, precisamos cobrar, judicialmente se preciso for, daqueles que estão ligados direta ou indiretamente ao serviço público (portanto nossos funcionários) que viabilizem soluções simples e de baixo custo, como as soluções sugeridas neste artigo e outras que possam ser e amplamente discutidas com a sociedade.
Que os acadêmicos e políticos, que pretensamente trabalham pela educação, descruzem seus braços, trabalhem com ouvidos abertos a sociedade e, de uma vez por todas, combatam as desigualdades de forma concreta.
Chega de discriminação!
Artigo 1: http://rapidshare.com/files/454526010/Evas__o_1.pdf
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